sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Reza

Estava chovendo toda água do mundo. Inhasã e Xangô caprichavam nos raios e trovões. Muita gente pequena e grande sentiu vontade de se esconder e abraçar forte alguém. Ela saiu correndo do trabalho aquele dia. Seria melhor um bote, mas foi de ônibus, metrô, ônibus e mais um tanto de sola de sapato. Chegou à casa ofegante, gritando no portão como de costume: “Filhaaaaaa”. Ninguém veio recebê-la. Foi para o banho frustrada. Minutos depois uma batida conhecida na porta. “Quem é?”, a mãe gritou. “Sua filha!”, respondeu a vozinha. “Deixa eu sentir o seu cheiro...”, exclamou a mãe, abrindo a porta do banheiro enfumaçado.

Conversaram sobre o dia. Comeram um lanche. Vestiram o pijama. Escovaram os dentes e depois, como de costume, o pedido: “Mamãe, conta uma história de verdade?”. Isso significa histórias escritas em livros, não inventadas na hora. A pequena escolheu um e deitaram juntas para aproveitar a fantasia. Em meio ao contexto, a pergunta: “Mamãe como é rezar?”. Ela explicou a seu modo. Reforçou que as pessoas conversam com o papai-do-céu, mas principalmente rezam com suas atitudes. A pequena adormeceu. A mãe ainda ficou um tempo pensando sobre o assunto.


Ciranda da Bailarina, Chico Buarque

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